Setembro é um mês de recomeços. Para os estudantes, é o início de um novo ano letivo. Para os adeptos de futebol, é o arranque entusiasmante da temporada. Para quem se inscreve no ginásio, é o mês em que se descobre que pagar a inscrição não conta como fazer exercício.
Mas, setembro representa também um marco para muitos recém-licenciados: depois de anos de preparação, é o momento de dar o salto para o mercado de trabalho e enfrentar, pela primeira vez, a procura de emprego. Mas afinal… o que é que os recrutadores procuram em perfis júnior?
Neste artigo, quatro Talent Acquisition Consultants da Neotalent Conclusion (Ricardo Domingues, Mónica Rosa, Belén Saraullo e Manuel Carrillo) partilham a sua experiência direta em processos de seleção. Desde como se destacar num mercado competitivo até como lidar com a rejeição, os seus conselhos são um guia prático para dar os primeiros passos no mercado profissional com confiança.
Destacar-se num mercado competitivo
É um facto: o mercado de trabalho está saturado e é, por necessidade, altamente competitivo. Não é raro que todas as oportunidades que encontras num portal de emprego tenham a indicação “mais de 100 candidaturas”, mesmo tendo sido publicadas há poucas horas.
Competir nestas condições, sem experiência prévia, pode parecer impossível. Mas os nossos colegas de Talent Acquisition são unânimes: o que faz a diferença é a atitude e a forma de contar a tua própria história.
Para Ricardo, um CV cuidado e com atenção ao detalhe é fundamental: “Sem experiência profissional, é importante ir ao detalhe no percurso académico: destacar os projetos realizados, que tarefas executadas e que ferramentas e tecnologias foram utilizadas”.
Mónica reforça esta ideia desmontando um mito habitual: “Os candidatos juniores pensam que um recruiter olha apenas para o CV, quando, na realidade, os detalhes são altamente diferenciadores”. Para ela, não conta apenas a formação, mas também tudo o que demonstra iniciativa e compromisso: “hobbies ou iniciativas de voluntariado… muitas vezes estão associados a sentido de responsabilidade e compromisso, e contribuem para o desenvolvimento de soft skills como espírito de equipa, comunicação e negociação”.
Belén destaca a autenticidade e o esforço por diferenciar-se num CV, mesmo sem experiência, lembrando que “o que procuramos são as vossas motivações: o que gostas, o que te levou a procurar mais informação até ao ponto de fazer outra formação, o que te empurrou a fazer o teu trabalho final de licenciatura (ou de mestrado!)”.
Por sua vez, Manu valoriza tanto os projetos pessoais como a honestidade: “Ter algum projeto pessoal conta sempre positivamente… mas o que realmente transmite confiança é não tentar encher o CV com informação desnecessária ou inventada”. Ricardo acrescenta ainda um alerta: linguagem demasiado formal pode dificultar a perceção real do que define um candidato.
Procurar e candidatar-se a oportunidades
Os ingredientes básicos para começar a procurar trabalho estão ao alcance de todos: um CV bem estruturado, com experiência académica, dados de contacto e uma fotografia tipo retrato; perfis criados em várias plataformas de emprego; uma carta de motivação, na qual explicas o teu entusiasmo por trabalhar na “Empresa X”… Mas, tal como na cozinha, os ingredientes básicos sozinhos resultam apenas numa receita insípida.
Um erro comum é enviar o mesmo CV para todas as vagas. “Talvez o erro mais comum seja os candidatos enviarem um CV muito genérico”, alerta Manu. Mónica concorda: “Um erro frequente é enviar o mesmo CV para todas as candidaturas, sem personalizar nem adaptar”. Ricardo acrescenta: “Adaptar os CV em função das oportunidades não é apenas um extra, é uma demonstração de atenção ao detalhe”.
A recomendação é clara: adaptar o CV, destacar projetos relevantes e detalhar as tecnologias utilizadas, mesmo em contexto académico ou pessoal. Neste ponto, Belén dá dicas muito práticas: “No dia em que rediges o teu CV, não poupes nas palavras e não te limites a uma página… as candidaturas que chamam a atenção transformam-se em diamantes em bruto, porque incluem detalhes que outros omitem”. Entre esses detalhes, Belén destaca:
- nomes de projetos em que participaste, mesmo que de apoio;
- funções desempenhadas em estágios, por pequenas que pareçam;
- experiências de voluntariado ou Erasmus, que revelam capacidade de adaptação e proatividade;
- o teu trabalho final de licenciatura ou mestrado, com título, e, se possível, links ou ferramentas utilizadas;
- projetos pessoais ou formação em curso, relacionados com o teu futuro profissional.
Quanto aos canais, todos apontam o LinkedIn como ferramenta principal. Para Ricardo, “é a plataforma com mais potencial e funcionalidades para um candidato que queira integrar o mercado de trabalho. Permite conhecer oportunidades, seguir empresas de interesse e criar uma rede de contactos”. Manu reforça que não basta apenas candidatar-se: “Aconselho sempre a acompanhar cada candidatura com uma mensagem breve e direta”.
Vale a pena mecionar que nem tudo é no digital: “As feiras de emprego nas faculdades são também oportunidades para conhecer empresas em profundidade, perceber em que áreas trabalham, que vagas entry-level existem, e colocar questões diretamente aos profissionais”, recorda Ricardo.
O momento da entrevista
A entrevista é um marco em qualquer candidatura e é natural que cause nervosismo. Mas, como lembra Belén, “não é preciso ter medo de se expressar e de mostrar segurança. O primeiro objetivo já foi alcançado: chamar a nossa atenção”.
Ricardo recomenda investigar bem a empresa, até contactando colaboradores no LinkedIn para chegar mais preparado. Manu acrescenta: “não se valoriza o suficiente a preparação prévia da entrevista: conhecer a empresa, a sua cultura, o que faz, a sua dimensão e preparar perguntas-chave”.
A apresentação pessoal é igualmente importante, como sublinha Ricardo: “Percebemos mais facilmente o potencial quando o candidato demonstra autoconhecimento sobre as suas motivações, interesses, projetos académicos ou pessoais, comunicando de forma organizada e apresentando competências com exemplos concretos”.
Mónica reforça que a postura conta tanto como o discurso: mostrar entusiasmo, ouvir com atenção, comunicar com clareza e manter contacto visual são sinais que criam ligação. Manu faz ainda uma observação prática: “É importante estar num local confortável e silencioso… muitas entrevistas fazem-se no comboio ou na rua e isso não transmite seriedade”.
No fim, os quatro são claros: o que distingue um júnior promissor não é ter respostas perfeitas, mas sim curiosidade, capacidade de comunicação e vontade de aprender.
“Ninguém sabe mais de ti do que tu próprio, por isso não existem respostas certas ou erradas quando falas sobre quem és e o que te motiva no mercado de trabalho”, conclui Belén.
Lidar com a rejeição e a incerteza
Receber um “não” ou não obter resposta pode ser desanimador, sobretudo no início. Mas, raramente, é um reflexo das capacidades de um candidato: muitas vezes depende da concorrência, do timing ou até do orçamento da empresa. Como explica Manu, “cada processo é uma nova oportunidade: ganha-se confiança ao responder a perguntas, aprende-se a estruturar melhor as respostas e aperfeiçoa-se a forma de transmitir a experiência e a motivação”.
Mónica partilha a mesma visão: a rejeição deve ser vista como “uma oportunidade de crescimento”. Recomenda pedir feedback e não hesitar em fazer um follow-up educado: muitos recrutadores recordam-se de candidatos que deixaram boa impressão.
O seguimento, de facto, é também um dos pontos sublinhados por Ricardo, para quem um “não” deve ser entendido como treino para processos futuros. “Ao receber feedback negativo, é importante perguntar ao recruiter o que não correu tão bem e quais podem ser os pontos de melhoria”, refere, lembrando que o silêncio não equivale necessariamente a um descarte definitivo.
Belén introduz uma perspetiva prática: “o teu primeiro trabalho é encontrar trabalho”. Tal como qualquer emprego, exige esforço, organização e resiliência, mas também descanso para manter a motivação. Procurar trabalho é, em si, um processo de aprendizagem em que se melhora com a prática.
Em resumo, um “não” nunca significa “não tens valor”: é parte de um caminho em que a resiliência, a procura de feedback e a atitude proativa fazem toda a diferença.
Para terminar…
Para um candidato júnior, cada passo no mercado laboral é uma novidade: o primeiro CV, a primeira entrevista, o primeiro trabalho. Como lembra Belén, o que permanece constante são as tuas capacidades, os teus conhecimentos e as tuas motivações.
O potencial não se mede em linha reta nem em comparação com outros. Como resume Manu, “a carreira profissional não é uma linha reta nem uma competição, mas sim um caminho de descoberta pessoal e crescimento contínuo”.
Para percorrê-lo, Mónica recomenda definir objetivos, criar uma rede de contactos e não ter medo de sair da zona de conforto. A Mónica aprendeu que não é preciso camuflar limitações: ser genuíno e honesto gera confiança e mostra motivação real.
Ricardo concorda: manter a curiosidade e continuar a aprender mesmo após o primeiro emprego é essencial. Sugere identificar áreas de melhoria, reforçá-las com formação e aproveitar cada processo de seleção para ganhar clareza sobre interesses e pontos fortes. Também recorda que, nas entrevistas, não basta dar respostas longas e técnicas: é preciso partilhar exemplos concretos e comunicar com transparência.
Em suma, começar a vida profissional pode ser desafiante, mas é também uma oportunidade única de crescimento. O que hoje parece incerteza, transformar-se-á em experiência e confiança. Neste percurso, o mais valioso não é um currículo perfeito, mas a capacidade de aprender, abraçar novas oportunidades e manter viva a curiosidade.
Por Ricardo Domingues, Mónica Rosa, Belén Saraullo & Manuel Carrillo, Talent Acquisition Consultants na Neotalent Conclusion